Os sinais que o corpo dá quando algo está errado ao praticar exercícios?

10 de Junho 2025 - 08h28
Créditos: Reprodução Redes Sociais

 

O jovem João Gabriel Hofstatter De Lamare morreu aos 20 anos durante uma prova de meia-maratona. O atleta caiu próximo ao quilômetro 20 do percurso de 21 quilômetros e, apesar do socorro imediato e dos procedimentos de reanimação realizados pelas equipes médicas do evento, não resistiu.

A organização do evento informou que a causa da morte foi um mal súbito e uma parada cardiorrespiratória. De acordo com amigos, era a primeira vez que fazia o trajeto de 21 quilômetros.

O caso levantou discussão sobre os sinais de exaustão extrema que o corpo emite durante atividades físicas intensas e os riscos associados ao desconhecimento. Especialistas ouvidos pelo g1 detalham esses alertas e indicam medidas preventivas.

Sinais fisiológicos de exaustão extrema
O corpo humano manifesta claros sinais de que seu limite fisiológico foi ultrapassado e que a exaustão se tornou perigosa.

Especialista em ortopedia e traumatologia pela Sociedade Brasileira, Eduardo Vasconcelos lista sintomas que não devem ser ignorados: tontura, visão turva, náuseas, calafrios, perda de coordenação motora, confusão mental, dor muscular desproporcional ao esforço, câimbras repetidas, batimentos cardíacos acelerados ou irregulares, e sensação iminente de desmaio.

Médico do esporte e especialista em Medicina de Expedições e Aventura pela Wilderness and Expedition Medical Society na Inglaterra, Gabriel Ganme complementa:

“Ao entrar em estado de exaustão, a performance do indivíduo começa a cair, acompanhada de perda de força, diminuição da velocidade na corrida e queda de pressão arterial. A coordenação motora pode ser afetada, resultando em mudanças descontroladas na direção da corrida”, explica.

Com a progressão da exaustão, diz o especialista, os sintomas se intensificam, podendo haver alteração na percepção do ambiente, vertigem intensa e, em casos extremos, perda de consciência.

Diferença entre fadiga normal e exaustão perigosa
Ganme observa que os sintomas de exaustão descritos acima podem estar associados à desidratação, hipoglicemia ou queda de pressão. Ainda segundo ele, é fundamental diferenciar a fadiga advinda de um treino da exaustão que exige interrupção imediata.

A fadiga normal, explicam os especialistas, é localizada, melhora com repouso e não compromete funções cognitivas ou vitais. O indivíduo pode sentir queda de desempenho, mas permanece consciente e orientado.

"O corpo dá sinais claros de que não está apenas cansado — está em sofrimento", afirma o médico do esporte.

Riscos imediatos e de longo prazo

Persistir no esforço diante de sinais claros de exaustão acarreta riscos significativos. Entre eles, os médicos destacam consequências imediatas:

  • Colapso cardiovascular.
  • Desidratação grave.
  • Hipertermia (superaquecimento do corpo).
  • Arritmias cardíacas.
  • Perda de consciência.
  • Morte súbita.
  • Rabdomiólise (destruição muscular que pode levar à falência renal, sendo um risco grave e subestimado). A rabdomiólise pode causar urina escura.
  • Hipoglicemia: queda acentuada dos níveis de glicose no sangue, podendo levar à perda de consciência.
  • Hiponatremia: ocorre com consumo excessivo de água sem reposição adequada de sódio, diluindo o sódio no sangue e podendo causar arritmias cardíacas graves e até morte.

Além desses, há os riscos a longo prazo, entre os quais os especialistas destacam:

  • Lesões por sobrecarga.
  • Alterações hormonais.
  • Imunossupressão.
  • Fadiga crônica.
  • Complicações cardíacas, como arritmias e fibrose miocárdica.
  • Danos renais relacionados à desidratação repetida e esforço extremo.
  • Lesões musculoesqueléticas.
  • Distúrbios do sono e sobrecarga mental.

O overtraining, se não identificado e tratado, pode comprometer o desempenho e a saúde a longo prazo. Atletas jovens submetidos a treinos e competições excessivas também estão sujeitos a consequências importantes em órgãos vitais.

Os especialistas afirmam que certas condições médicas podem aumentar a suscetibilidade a colapsos. Vasconcelos destaca cardiopatias, arritmias cardíacas, doenças metabólicas como diabetes, hipotireoidismo, anemia e o uso de medicamentos como hormônios análogos à testosterona.

Ganme adiciona a predisposição genética, como o tipo de fibra muscular predominante, que pode desequilibrar a exigência do esporte e o corpo do atleta.

Para identificar condições pré-existentes que podem ocasionar sintomas graves, os médicos indicam exames cruciais. “Os exames cardíacos clássicos como eletrocardiograma, teste ergométrico e ecocardiograma são imprescindíveis”, diz Vasconcelos.

O médico ortopedista recomenda, ainda, que o indivíduo se submeta a um hemograma completo, a exames hormonais, testes de esforço, anamnese e análise de composição corporal. Ergoespirometria e testes para detecção de arritmias também são importantes.

Primeiras medidas de socorro em caso de colapso

Gabriel Ganme enfatiza que, ao ocorrer um colapso, o primeiro passo é aplicar os princípios básicos de atendimento: vias aéreas, respiração e circulação (ABCs). A síncope vasovagal, um colapso comum, é frequentemente causada por queda de pressão arterial devido à desidratação, e a recuperação costuma ser rápida ao deitar o atleta e elevar as pernas dele. A reposição com líquidos, eletrólitos e carboidratos geralmente resolve o quadro.

Em caso de colapso durante uma prova ou treino, os médicos sugerem que primeiras medidas de socorro sejam tomadas.
  • Interromper imediatamente a atividade.
  • Deitar a pessoa em posição segura, preferencialmente com as pernas elevadas.
  • Promover resfriamento (sombra, água fria, ventilação), se a causa for hipertermia.
  • Oferecer líquidos se a pessoa estiver consciente.
  • Acionar o serviço de emergência.
  • Verificar sinais vitais (consciência, respiração, pulso).

Se houver sinais de inconsciência, convulsões ou ausência de respiração, os especialistas sugerem iniciar manobras de reanimação, se necessário, enquanto o serviço de emergência é acionado.

Hidratação é chave para cuidado

A ausência de reposição adequada de líquidos, eletrólitos e carboidratos durante provas longas aumenta o risco de exaustão, cãibras e colapso. É fundamental que o atleta inicie a prova bem hidratado e mantenha uma ingestão periódica de líquidos e fontes de energia durante todo o esforço.

Gabriel Ganme ressalta que o maior risco está na falta de uma estratégia adequada de hidratação e nutrição, que deve ser individualizada e discutida com médico e/ou nutricionista, considerando condições clínicas preexistentes.

Com informações de g1