
“Jamais teria imaginado que Itália x Brasil 1982 entraria para a história do futebol como um dos jogos do século. Uma partida memorável, jogada de igual para igual, e de forma aberta por ambos os lados.
A partida contra o Brasil marcou minha vida de forma indelével. Naquele dia, eu me sentia forte como um leão e ágil como uma gazela; três gols, uma prova soberba. O meu primeiro gol foi o mais importante de toda a minha carreira. Eu o recordo como o mais retumbante de minha vida. Finalmente, havia vencido um bloqueio e experimentei uma sensação libertadora; estavam se abrindo as portas do paraíso. Então retomei meu gesto habitual de estufar as redes, e aquele gol me deu uma confiança desmesurada.
Durante a partida nunca pensei no resultado; tentei apenas manter alta a concentração no jogo; eu sentia os pensamentos positivos, o físico respondia bem e eu via os meus companheiros com garra e com muita personalidade.
Sabíamos estar diante de um dos melhores times de todos os tempos; eu os havia visto disputando as partidas anteriores e eles me pareciam marcianos; jogavam de memória; podiam jogar de olhos vendados de tão perfeito o entendimento entre eles. Jogadores extraordinários e talentosos como Zico, Falcão, Sócrates, Júnior, Cerezo, Éder...
Nenhuma equipe do mundo, porém, é invencível, e naquele dia, eles encontraram a seleção italiana inspirada. Nada nem ninguém, pararia os 11 mosqueteiros azzurri.
Certamente a Itália puniu a presunção e a arrogância do Brasil. Nós fomos mais efetivos e cínicos. Após o apito final, que recompensava a Itália e eliminava definitivamente o Brasil, minha cabeça explodiu; fiquei aturdido como por um feitiço, inebriado de alegria. Nós tínhamos conquistado, a muito custo, a semifinal contra a Polônia.
Com o sangue quente, não imaginávamos que aquele Itália x Brasil entraria para a lenda do futebol universal. E eu era o protagonista, o personagem principal, mas isso eu só entendi mais tarde”.
Esse texto é o prefácio do livro “Brasil, o time que perdeu a Copa e conquistou o mundo”, de Paulo Roberto Falcão e é assinado por Paolo Rossi, “o Bambino D’oro”, centroavante da seleção italiana e responsável direto pela eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982.
Um olhar italiano e feito pelo “dono do jogo”, portanto, um contraponto a todas as versões que o brasileiro se acostumou a ver e ouvir a respeito daquela partida inesquecível.
A homenagem do “Blog do Kolluna” ao jogador italiano que faleceu esta semana e enlutou o futebol mundial.