Pedidos contra a democracia foram feitos por "infiltrados", diz Bolsonaro

21 de Abril 2020 - 07h12
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Após comparecer e discursar em um ato, no domingo, que tinha como mote principal a intervenção militar — e ser duramente criticado por parlamentares, ministros e governadores —, o presidente Jair Bolsonaro decidiu adotar um tom mais conciliador. Ontem, negou que tenha qualquer intenção antidemocrática e disse apenas expressar sua opinião ao tecer críticas à atuação de outros poderes.

Ele afirmou, ainda, que os pedidos ilegais e que atentam contra a democracia foram feitos por “infiltrados” e não por ele. Na manifestação, houve defesa da reedição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que inaugurou a fase mais repressiva da ditadura militar (1964-1985), e do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Bolsonaro, no entanto, afirmou ser ele próprio a Constituição, ao ser questionado sobre a presença na manifestação. “O que eu tomei de providência contra a imprensa, contra a liberdade de expressão? Eu, inclusive, sou contra as prisões administrativas que estão ocorrendo no Brasil. Prenderam uma mulher de biquíni na praia no Recreio (Rio de Janeiro), prenderam na praia de Boa Viagem (Recife) um aposentado da Aeronáutica. Eu sou, realmente, a Constituição”, frisou.

Segundo Bolsonaro, geralmente quem faz algum tipo de conspiração visa chegar ao poder, o que não se aplica ao caso dele. “Eu já estou no poder. Já sou o presidente da República. Então, estou conspirando contra quem, meu Deus do céu? Falta um pouco de inteligência daqueles que me acusam de ser ditatorial”, alfinetou.

 

O chefe do Executivo reafirmou respeitar os demais poderes, mas argumentou que também tem opinião. “Não vou pecar por omissão. Respeito o STF, o Congresso, mas eu tenho opinião. Não pode qualquer palavra minha ser interpretada por alguns como agressão, como ofensa”, reclamou.

 

Perguntado sobre qual mensagem daria aos apoiadores que clamam pela volta do AI-5, Bolsonaro rebateu: “Não quero papo com vocês. Quem não quiser ouvir, vá embora. Todo e qualquer movimento tem infiltrado, tem gente que tem a sua liberdade de expressão. Respeite a liberdade de expressão”, disse. “Pegue o meu discurso, deve dar dois minutos. Não falei nada contra qualquer outro poder. Muito pelo contrário. O povo quer voltar ao trabalho. O povo quer isso. Estavam lá saudando o Exército brasileiro. É isso. Mais nada. Fora isso, é invencionice, é tentativa de incendiar uma nação que ainda está dentro da normalidade. No que depender do presidente Bolsonaro, democracia e liberdade acima de tudo.”

Erros

Por mais que Bolsonaro tenha justificado as manifestações de domingo como liberdade de expressão, acabou incitando um movimento que pedia o fechamento do Congresso Nacional e do STF, além da instauração de um novo AI-5 e uma intervenção militar no país. 

Na visão de especialistas, o episódio do fim de semana se junta a uma série de outras ocasiões em que o presidente ultrapassou os limites do poder que exerce. “Reiteradamente, Bolsonaro pratica atos graves de afronta ao Supremo, ao Congresso e a parlamentares específicos. Todas essas situações são absolutamente incompatíveis com aquilo que se espera do presidente da República”, comentou Conrado Gontijo, doutor em direito penal pela Universidade de São Paulo (USP).

Correio Braziliense