
Em 1956, a máquina húngara de jogar futebol composta por Grosiks, Kocsis, Puskas e Czibor estava na Espanha para rodada da Liga dos Campeões contra o Athletico de Bilbao. O jogo terminou com a vitória dos espanhóis por 3x2. Como a agitação política em Budapeste já era grande, a partida da volta foi marcada para Bruxelas, terminando em 3x3 e, consequentemente, eliminando o Honved. A equipe se negou a voltar ao país natal com a notícia da invasão soviética. O time passou a vagar pela Europa ocidental como um bando de ciganos a jogar amistosos a garantir-lhes algum sustento. Até que surgiu uma sedutora proposta para cruzar o Atlântico e vir aos trópicos jogar com os brasileiros. Somente o treinador Gustav Sebes, comunista convicto, retornou a Budapeste, e Puskas convidou Bela Guttmann para acompanhar o Honved no exílio.
Uma nova página do futebol brasileiro surgiu a partir da vinda dos húngaros ao nosso país. Guttmann aqui ficou por uma temporada contratado pelo São Paulo e deu-lhe o título, num time que tinha Poy, Dino Sani, Zizinho e Canhoteiro. O mais importante foi que o gordo Vicente Feola, então supervisor do tricolor paulista, assimilou os ensinamentos do húngaro e destilou o veneno necessário a sermos campeões do mundo no ano seguinte, chutando para longe o estigma do complexo de vira-latas.
Pois bem. Em janeiro/1957, o Honved desembarcou no Brasil. O que era para ser apenas uma partida contra o Flamengo, transformou-se em três, além de uma contra o Botafogo e outra contra um combinado Flamengo-Botafogo.
Na estréia contra o rubro-negro carioca, a base da seleção húngara levou um banho de futebol diante de um público de 120 mil torcedores e perdeu de 6x4, com o Flamengo sendo obrigado a jogar com parte de sua base, uma vez que estava desfalcado do meia Dequinha, dos pontas Joel e Zagallo e do centroavante Índio.
O patrocinador do espetáculo era uma marca de cigarros e levou a revanche para ser jogada em São Paulo, debaixo de forte chuva e com os portões do Pacaembu praticamente abertos, pois o acerto era somente apresentar na entrada uma carteira de cigarros de qualquer marca. O resultado se inverteu e os húngaros obtiveram sua segunda vitória em solo brasileiro, pois no intervalo entre as duas partidas jogou contra o Botafogo e venceu por 4x2.
Uma revanche da revanche ainda foi jogada no Maracanã, como nova vitória dos magiares, por 3x2. A aventura dos húngaros em solo brasileiro se encerrou com um jogo contra o combinado Flamengo-Botafogo, que meteu 6x2 nos incômodos hóspedes para mostrar quem canta(va) nesse terreiro.
Todas as 05 (cinco) partidas, jogadas entre 19.01 e 07.02.1957, foram conduzidas pelo árbitro Mario Vianna, que havia apitado as Copas do Mundo de 1950 e 1954, mas que foi expulso dos quadros da FIFA por suas declarações polêmicas de que o colega inglês Arthur Ellis tinha se vendido a beneficiar os húngaros na “Batalha de Berna”, em 1954.
Crédito de imagens e informações para criação do texto: A sombra das chuteiras imortais (Nelson Rodrigues); Puskas, uma lenda do futebol (Rogan Taylor e Klara Jamrich) e Bela Guttmann, uma lenda do futebol do século XX (Detlev Claussen).